Não há razões objectivas que expliquem a redução drástica do número de penáltis assinalados na Liga portuguesa, que na época passada sofreu uma redução de 40%, acentuando a queda que já se iniciara em 2003. Medo de errar por parte dos árbitros é a única explicação plausível.
Para os portugueses, o pénalti, mais que o golo, é o momento flagrante do espectáculo futebolístico. Atente-se no que se passou este fim-de-semana no grande dérbi na Luz, que terminou empatado sem golos pela primeira vez neste século: das grandes discussões que foram ‘espoletadas’ e foram rebentando em sucessivos meios de polémica gratuita, ninguém discutiu os golos que não foram marcados mas apenas os penáltis que não foram assinalados. Bizarro.
Neste enquadramento em que os árbitros, também chamados de ‘homens-penálti’, vão ocupando, não por opção deles, o lugar outrora destacado dos homens-golo, que desapareceram do horizonte futebolístico nacional, a baixa ‘produtividade’ que vêm revelando nos últimos anos tem de ser um caso de estudo. Por que motivo os árbitros assinalam cada vez menos penáltis se o número geral de faltas cometidas, de facto, não desceu?
A resposta mais simples e crua radica no medo – medo cénico, medo emocional, medo incompetente, a irreprimível angústia do árbitro diante do penálti – que vem acometendo as novas gerações de juízes, para quem a actividade em campo se defende muito melhor com faltas e faltinhas, discussões sobre pormenores burocráticos como a colocação da bola ou a fralda da camisola fora dos calções, através dessa irresistível arma defensiva que é o cartão amarelo, ponte de coragem para o cartão vermelho.
Na década de 90 do século passado, a fisionomia da ficha de um jogo de futebol alterou-se sobremaneira, com a secção dos cartões a ocupar as linhas que a tabela dos golos já vinha perdendo. Nos anos 80, ainda um campeonato tinha mais penáltis do que expulsões, por exemplo. No ano passado, foram expulsos 81 jogadores na 1.ª Liga e marcadas apenas 44 grandes penalidades – o total mais baixo em mais de 30 anos.
O número de ‘castigos máximos’ – a semântica terá ajudado ao cariz de monstruosidade que os 9,15 metros entretanto ganharam – vem baixando drasticamente ao longo deste século, depois de ter atingido em 2001-2002 o recorde de 110, quando os árbitros assinalavam um a cada três jogos. Na época corrente, este rácio baixou para metade (um penálti a cada seis partidas) e não há uma única pessoa convencida de que tal se deva à inexistência de faltas na grande área mas tão-somente ao pavor de que os árbitros se foram deixando tomar, perante a perspectiva de poderem tomar uma decisão errada sem volta atrás. Os oito penáltis que foram assinalados nas primeiras seis jornadas do actual campeonato representam menos de metade dos verificados em igual número de jornadas nos primeiros anos do século.
Neste enquadramento em que os árbitros, também chamados de ‘homens-penálti’, vão ocupando, não por opção deles, o lugar outrora destacado dos homens-golo, que desapareceram do horizonte futebolístico nacional, a baixa ‘produtividade’ que vêm revelando nos últimos anos tem de ser um caso de estudo. Por que motivo os árbitros assinalam cada vez menos penáltis se o número geral de faltas cometidas, de facto, não desceu?
A resposta mais simples e crua radica no medo – medo cénico, medo emocional, medo incompetente, a irreprimível angústia do árbitro diante do penálti – que vem acometendo as novas gerações de juízes, para quem a actividade em campo se defende muito melhor com faltas e faltinhas, discussões sobre pormenores burocráticos como a colocação da bola ou a fralda da camisola fora dos calções, através dessa irresistível arma defensiva que é o cartão amarelo, ponte de coragem para o cartão vermelho.
Na década de 90 do século passado, a fisionomia da ficha de um jogo de futebol alterou-se sobremaneira, com a secção dos cartões a ocupar as linhas que a tabela dos golos já vinha perdendo. Nos anos 80, ainda um campeonato tinha mais penáltis do que expulsões, por exemplo. No ano passado, foram expulsos 81 jogadores na 1.ª Liga e marcadas apenas 44 grandes penalidades – o total mais baixo em mais de 30 anos.
O número de ‘castigos máximos’ – a semântica terá ajudado ao cariz de monstruosidade que os 9,15 metros entretanto ganharam – vem baixando drasticamente ao longo deste século, depois de ter atingido em 2001-2002 o recorde de 110, quando os árbitros assinalavam um a cada três jogos. Na época corrente, este rácio baixou para metade (um penálti a cada seis partidas) e não há uma única pessoa convencida de que tal se deva à inexistência de faltas na grande área mas tão-somente ao pavor de que os árbitros se foram deixando tomar, perante a perspectiva de poderem tomar uma decisão errada sem volta atrás. Os oito penáltis que foram assinalados nas primeiras seis jornadas do actual campeonato representam menos de metade dos verificados em igual número de jornadas nos primeiros anos do século.
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RECORDE DE FERREIRA
Pedro Henriques, que dirigiu o dérbi, e segundo alguns especialistas terá deixado por assinalar cinco ou seis faltas que “podiam ser penálti”, já não toma uma decisão dessas há quase dois anos, precisamente desde um dérbi de Janeiro de 2006 em que marcou um para cada lado. Mas nem é dele o recorde. Cabe a João Ferreira, curiosamente o árbitro que vai hoje dirigir a partida do Benfica (em Leiria), um período excepcional de 21 meses e 24 jogos de 1.ª Liga sem conseguir ver uma falta defensiva dentro de uma grande área. A teoria das probabilidades e a racionalidade estatística dizem-nos que tal é impossível – logo, estaremos perante um árbitro com ‘dificuldade’ em assumir o ónus de tais decisões. João Ferreira tem um histórico conflituoso com este tema não apenas pelos que deixou de marcar mas sobretudo porque uma boa parte dos 26 que já assinalou desencadearam grandes polémicas e notas negativas. Basta recordar que há 21 meses (!), em Janeiro de 2006, nos minutos finais de um Sp. Braga-Benfica, confundiu o peito com o braço de Nunes e só se livrou da excomunhão bracarense porque ainda validou o golo decisivo, em fora-de-jogo, de Bevacqua. Nos seus múltiplos erros, o árbitro do célebre golo de Ronny (esse sim, à mão) favoreceu e prejudicou todos os clubes envolvidos sem revelar favoritismos. Tornou-se até mais picuinhas e estabeleceu o recorde de faltas num jogo do último campeonato, o Nacional-Sp. Braga, em que assinalou 55 infracções. Mas todas bem longe das grandes áreas.
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RECORDE DE FERREIRA
Pedro Henriques, que dirigiu o dérbi, e segundo alguns especialistas terá deixado por assinalar cinco ou seis faltas que “podiam ser penálti”, já não toma uma decisão dessas há quase dois anos, precisamente desde um dérbi de Janeiro de 2006 em que marcou um para cada lado. Mas nem é dele o recorde. Cabe a João Ferreira, curiosamente o árbitro que vai hoje dirigir a partida do Benfica (em Leiria), um período excepcional de 21 meses e 24 jogos de 1.ª Liga sem conseguir ver uma falta defensiva dentro de uma grande área. A teoria das probabilidades e a racionalidade estatística dizem-nos que tal é impossível – logo, estaremos perante um árbitro com ‘dificuldade’ em assumir o ónus de tais decisões. João Ferreira tem um histórico conflituoso com este tema não apenas pelos que deixou de marcar mas sobretudo porque uma boa parte dos 26 que já assinalou desencadearam grandes polémicas e notas negativas. Basta recordar que há 21 meses (!), em Janeiro de 2006, nos minutos finais de um Sp. Braga-Benfica, confundiu o peito com o braço de Nunes e só se livrou da excomunhão bracarense porque ainda validou o golo decisivo, em fora-de-jogo, de Bevacqua. Nos seus múltiplos erros, o árbitro do célebre golo de Ronny (esse sim, à mão) favoreceu e prejudicou todos os clubes envolvidos sem revelar favoritismos. Tornou-se até mais picuinhas e estabeleceu o recorde de faltas num jogo do último campeonato, o Nacional-Sp. Braga, em que assinalou 55 infracções. Mas todas bem longe das grandes áreas.
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ÁRBITROS E PENÁLTIS
ELMANO SANTOS: 1 PENÁLTI EM CADA 3 JOGOS
JOÃO FERREIRA: 24 JOGOS, 21 MESES, 0 PENÁLTIS
PAULO PARATY: 51 penáltis / 211 jogos
LUCÍLIO BAPTISTA: 46 penáltis / 203 jogos
PAULO COSTA: 45 penáltis / 176 jogos
OLEGÁRIO BENQUERENÇA: 35 penáltis / 122 jogos
PAULO BAPTISTA: 30 penáltis / 145 jogos
BRUNO PAIXÃO: 26 penáltis / 126 jogos
JOÃO FERREIRA: 26 penáltis / 105 jogos
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PENÁLTIS NA LIGA POR ÉPOCA
ÉPOCA 99/00: 76
ÉPOCA 00/01: 79
ÉPOCA 01/02: 110
ÉPOCA 02/03: 81
ÉPOCA 03/04: 77
ÉPOCA 04/05: 69
ÉPOCA 05/06: 75
ÉPOCA 06/07: 44
ÉPOCA 07/08: ?
PENÁLTIS NA LIGA POR ÉPOCA
ÉPOCA 99/00: 76
ÉPOCA 00/01: 79
ÉPOCA 01/02: 110
ÉPOCA 02/03: 81
ÉPOCA 03/04: 77
ÉPOCA 04/05: 69
ÉPOCA 05/06: 75
ÉPOCA 06/07: 44
ÉPOCA 07/08: ?
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RANKING DE CLUBES
No século XXI, o Sporting tem sido largamente o clube mais vezes contemplado com grandes penalidades, com um total de 71, mais de 30% melhor que Benfica (48) e FC Porto (44), o dobro ou mais do que os restantes clubes com presenças contínuas na divisão principal. A rotina dos protestos sportinguistas relativamente a esta matéria pode ter uma relação com um hábito mais pronunciado, como se penálti atraísse penálti: mesmo os protestos fazem-se quase sempre no plural, num círculo vicioso de queixas e pressões que noutras décadas dava mais resultado em paragens mais a norte. De resto, o facto mais significativo desta amostra é a perda de influência do FC Porto nos últimos anos em matéria de benefícios directos da sua política agressiva sobre os árbitros – que hoje é bem menos agressiva que a do Sporting e também de meninos de coro quando comparada com os anos gloriosos do ‘Apito Dourado’. Desde que rebentou o escândalo, há quatro anos, e o FC Porto teve de aligeirar as suas conexões nos meandros da arbitragem, o número de penáltis a favorecer os dragões baixou para praticamente metade dos dois rivais de Lisboa; mas, no entanto, o FC Porto nunca deixou de ser a equipa com menos penáltis assinalados contra, apenas dois nos últimos três anos.
RANKING DE CLUBES
No século XXI, o Sporting tem sido largamente o clube mais vezes contemplado com grandes penalidades, com um total de 71, mais de 30% melhor que Benfica (48) e FC Porto (44), o dobro ou mais do que os restantes clubes com presenças contínuas na divisão principal. A rotina dos protestos sportinguistas relativamente a esta matéria pode ter uma relação com um hábito mais pronunciado, como se penálti atraísse penálti: mesmo os protestos fazem-se quase sempre no plural, num círculo vicioso de queixas e pressões que noutras décadas dava mais resultado em paragens mais a norte. De resto, o facto mais significativo desta amostra é a perda de influência do FC Porto nos últimos anos em matéria de benefícios directos da sua política agressiva sobre os árbitros – que hoje é bem menos agressiva que a do Sporting e também de meninos de coro quando comparada com os anos gloriosos do ‘Apito Dourado’. Desde que rebentou o escândalo, há quatro anos, e o FC Porto teve de aligeirar as suas conexões nos meandros da arbitragem, o número de penáltis a favorecer os dragões baixou para praticamente metade dos dois rivais de Lisboa; mas, no entanto, o FC Porto nunca deixou de ser a equipa com menos penáltis assinalados contra, apenas dois nos últimos três anos.
Reportagem de João Querido Manha, in Correio da Manha
Etiquetas: Noticias
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